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RICHARD BARBROOK

1964 seriam perdoados ao pensarem que dessa vez seus três principais futuros imaginários poderiam também ser realizados nos próximos 25 anos. Ao considerar o que havia sido cumprido, tais previsões de alta tecnologia não pareciam fantasias insanas. Durante as últimas duas décadas e meia, o alto governo e os grandes negócios tinham repetidamente provado sua habilidade em transformar sonhos de ficção científica em mercadoria barata. Quem poderia duvidar que — pelo menos até 1990 — a maioria dos estadunidenses degustaria as delícias do turismo espacial e da eletricidade sem custo? E o melhor de tudo, eles viveriam em um mundo em que máquinas cônscias seriam suas servas devotas. A Era do Robô tinha a distância de apenas uma geração.

A confiança do público estadunidense nesses futuros imaginários era baseada em um errôneo senso de continuidade. Apesar de acontecer no mesmo lugar e de possuir os mesmos exibidores, a Feira Mundial de 1964 possuía uma iconografia tecnológica diferente da sua antecessora de 1939. Duas décadas e meia antes, a peça principal da exposição era o carro motorizado: um produto de consumo para produção em massa. Em oposição, as estrelas do espetáculo na Feira Mundial de 1964 eram foguetes espaciais, reatores atômicos e mainframes de alta-velocidade: tecnologias financiadas pelo Estado para lutar na Guerra Fria. Ao serem combinadas em mísseis nucleares guiados por computador, essas tecnologias tornavam-se armas horrendas capazes de destruir por inteiro cidades russas e seus desafortunados habitantes. Enquanto sua precursora de 1939 demonstrara o transporte motorizado para as massas, os ícones da Feira Mundial de 1964 eram as máquinas do Armagedom atômico. Em exposições anteriores, a mostra pública de novos produtos intensificara os efeitos do fetichismo mercantil. Ao adicionarem outro grau de separação entre criação e consumo, esses eventos concentravam a atenção do público para o papel simbólico das novas

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