Página:Iracema - lenda do Ceará.djvu/90

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virgem do sertão, aninhou-se nos braços do guerreiro.

Quando veio a manhã, ainda achou Iracema ali debruçada, qual borboleta que dormio no seio do formoso cacto. Em seu lindo semblante accendia o pejo vivos rubores; e como entre os arrebóes da manhã scintilla o primeiro raio do sol, em suas faces incendidas rutilava o primeiro sorriso da esposa, aurora de fruido amor.

Martim vendo a virgem unida ao seu coração, cuidou que o sonho continuava; cerrou os olhos para torna-los á abrir.

A pocema dos guerreiros, troando pelo valle, o arrancou ao doce engano: sentio que já não sonhava, mas vivia. Sua mão cruel abafou nos labios da virgem o beijo que ali se espanejava.

— Os beijos de Iracema são doces no sonho; o guerreiro branco encheu deles sua alma. Na vida, os lábios da virgem de Tupan amargão e doem como o espinho da jurema.

A filha de Araken escondeu no coração a sua alegria. Ficou timida e inquieta, como a ave que pressente a borrasca no horisonte. Affastou-se rapida, e partiu.