Página:Marános, Teixeira de Pascoaes, 1920.djvu/43

Wikisource, a biblioteca livre
39


«Ó pálida Donzela que eu avisto
Nos tenebrosos longes do Universo,
Tu não vês o logar onde eu existo
Nem a essencia divina do meu Corpo.
Nunca a alegria plena tu sentiste,
Nem o prazer sem fim! E a doce luz
Dos teus olhos, ás vezes, é tão triste
Que dá melancolia ás proprias cousas...
Pois tu és a Mulher, Fragilidade
Transição dolorosa! E a tua branca
Formosura é egual á tempestade
Que derruba e destróe para ser bela!
És a Beleza, sim, que a pura sorte
Em transitorio barro quiz moldar.
E nos teus beijos mesmo existe a morte,
E no teu coração e nos teus olhos!»


E depois, dirigindo-se a Marános:


«E tu que também és do mesmo Reino,
Sujeito á lei do espaço e á lei dos anos:
Tu que és da mesma dôr, miseria negra,
Só em mim a Ventura encontrarás,
O espiritual Prazer eterno e vivo!
Funde em meu Corpo alegre a tua dôr,
O que tens de remoto e primitivo!
Embriága-te em mim, e te extasia!
Exhalta-te em meu sêr que te pertence!
Foge comigo, envolto na harmonia
Que fórma a onda astral do meu cabelo!
Vamos os dois, fugindo ... Eu te prometo

A sublime e final Revelação...