Página:O Barao de Lavos (1908).djvu/71

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altos desníveis derreia a espinha e retesa os músculos em contrações violentas, tendo por consequência a espessidão e o encurtamento dos ossos em que se apoiam.

Também, de há muito que o barão porfiava no seu sonho, sempre sem resultado. A veemência deste desejo irrealizado enquistara mesmo numa fixidez sinistra de mania. Referia-lhe incondicionalmente as suas relações todas com o mundo exterior. Ao primeiro encarar com um desconhecido, o seu olhar baixava logo, numa avidez sombria, a medir-lhe as relações de comprimento entre o tronco e os membros inferiores. Quando vira na véspera o rapaz que lhe pedia a senha, relanceou-o logo... pareceu-lhe que ele devia corporizar excelentemente a sua ideia. Daí aquele fervoroso empenho em trazê-lo a este exame extravagante. E — finalmente! — acertara desta vez.

Mas a cópia levava tempo. O rapaz impacientava-se. Não saía bem o desenho, embrulhavam-se os traços... A hiperestesia sensual, que cumulativamente com a obsessão artística trabalhava o barão, começara a preponderar. O apetite carnal cresceu, irreprimível. Num dado momento, parou a olhar o modelo, com a pupila empanada, o lápis caiu-lhe dos dedos trémulos, as maxilas oscilaram-lhe num jeito de carnívoro, e então foi tomar o efebo nos braços e refugiou-se com ele na penumbra da alcova...




Uma hora depois, o barão, vagaroso, lasso, neste abandono que nos adormenta os nervos que um largo dispêndio de gozo extenuou, dizia