Página:O Hóspede.djvu/180

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Lembrou-se então de que estava naquela casa havia perto de um mês e que tinha obrigação de dar um presente de valor, uma jóia qualquer, para pagar a hospedagem. Este pensamento revoltava-o e punha-o em embaraços. Pois ainda em cima de tudo quanto lhe haviam feito, ele tinha de fingir-se agradecido, de ficar devendo um favor, de sujeitar-se a oferecer uma pulseira ou um colar à Nenê?!

E continuava a procurar um pretexto. Temia, dentre tudo, que o Pedro, com o seu sistema de não ver nada, de passar desapercebido por junto de todos estes dramas de família, não compreendesse a situação e insistisse para que ficasse. lembrava-se da cena do bonde, quando ele quisera partir, e lamentava-se de não ter então mostrado mais energia. Quanta coisa não teria evitado com isto! E buscava um pretexto, um pretexto forte que não admitisse dúvidas. Veio-lhe então à idéia uma viagem. E recordou-se que em sua vida acadêmica, lá no Recife, estivera em contato e intimidade com muitos estudantes de S. Paulo que não poupavam elogios a esta última cidade e à sua academia. Por vezes projetara ir concluir aí os seus estudos. E resolveu-se então a dizer ao Pedro que encontrava