Página:Obras completas de Fagundes Varela (1920), I.djvu/72

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tário tremeu. Nas luzes febrentas
Daquelas faíscas, passaram sedentas
As fúrias medonhas de eterna vingança.
Calou-se um momento, sombrio, engolfado
Num pego de idéias, talvez despertado
Ao súbito choque de viva lembrança.
XIX
Mas logo de novo raivoso, incendido,
Voltou-se ao cativo: - Cativo atrevido,
Porque ultrajaste teu amo e senhor?
- Porque? - disse Mauro; porque? vou dizer;
Porque? eu repito que assim é mister:
Teu filho é um cobarde, teu filho é um traidor!
XX
- Segurem-no!... branco, de cólera arfando,
Rugiu o tirano, convulso, apontando
O escravo rebelde que os ferros brandia.
Segurem-no! e aos golpes de rábido açoite,
Lacerem-lhe as carnes de dia e de noite,
Até que lhe chegue final agonia!
XXI
O bando de servos lançou-se, ao mandado.
- Ninguém se aproxime! - bradou exaltado
O moço cativo sustendo a corrente.
A turba afastou-se medrosa e tremendo