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No outro dia, antes que Liduina abordasse o thema dilecto, disse-lhe Izabel :
— Mas Liduina, que é amor ?
— Amor ? respondeu a arguta mucama em quem o instincto substituia a cultura. Amor é uma coisa...
— ...que...
— ...que vem vindo, vem vindo...
— ...e chega !
— ...e chega e toma conta da gente. Tio Adão diz que o amor é doença. Que a gente tem sarampo, catapora, tosse comprida, cachumba e amor — cada doença no tempo proprio.
— Pois eu tive tudo isso, replicou Izabel, e não tive amor...
— Sossegue que não escapa. Teve as peiores e não ha de ter a melhor ? Espere que um dia elle vem...
Silenciaram.
Súbito, Izabel, agarrando o braço da mucama, encarou-a a fito nos olhos :
— E’s minha amiga, do coração, Liduina ?
— Um raio me parta neste momento si...
— E’s capaz dum segredo, mas um segredo eterno, eterno, eterno ?
— Um raio me parta...
— Cala a bocca.
Izabel vacillava.