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Porque ha de a vida ser assim ? Porque hão de os homens, á força d'orgulho, impedir que o botão da maravilhosa planta passe a flor ? E porque hão de transformar o que é céo em inferno, o que é perfume em dôr, o que é luz em negrume, o que é belleza em caveira ?
Izabel, mimo de fragilidade feminil avivada de graça brasilea, tinha o "quê" perturbador das orchideas. A belleza sua não era ao molde da belleza rochunchuda e corada, forte e sadia, das cachopas da minha terra. Espiritualizava-a algo de velatura, desse esfuminhado das segundas tiragens em que o retoque evanesce a força em diluculo de graça.
Porisso mesmo mais fortemente me seduzia a pallida princezinha tropical.
Ao inverso, em mim o que a seduzia era a força varonil e transbordante, a nobre rudeza dos meus instinctos que iam até a audacia de pôr os olhos na altura em que ella pairava.
O primeiro encontro foi... casual. Meu Acaso era Liduina. Seu genio instinctivo de Ariel rustico fazia-a sempre a boa fada dos nossos amores.
Foi assim.
Estavam as duas, no pomar, deante duma pitangueira enrubecida de fructos.
— Lindas pitangas ! disse Izabel. Sóbe, Liduina, e apanha-me um punhado.