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OS SIMPLES

Oh em vão!... que os astros, onde em sonho habito,
São tambem fogueiras sobrenaturaes,
Que na pavorosa noite do Infinito
Crepitando espalham seu clarão bemdito,
Suas alvoradas roseas, virginaes,

Para em torno d'ellas se aquecerem mundos
A tremer com frio, a soluçar com dor,
Miseraveis monstros cegos, vagabundos,
Atravez d'eternos turbilhões profundos,
N'um virtiginoso, angustioso horror!...

E ardam astros d'oiro, ou ardam castanheiros,
No Infinito imenso ou n'um tugurio assim,
Fica a mesma cinza d'esses dois braseiros,
Atomos errantes, sonhos vãos, argueiros
Na inconsciencia calma da amplidão sem fim!...