Página:Raios de extincta luz (Antero de Quental, 1892).djvu/68

Wikisource, a biblioteca livre
16
Raios de extincta Luz


Que pôs no olhar o brilho,
E deu ao labio o riso,
Á planta o pomo liso.
Seio de mãe ao filho;

O que é verbo da vida,
Do amor, da luz, do affecto,
O que sustenta o insecto
E a planta desvalida;

E disse á nuvem branca
— Em densas trevas morre,
E disse ao vento — corre,
Assola, espalha, arranca;

Quem faz da vida morte,
De puro incenso, fumo;
E deixa, em mar sem rumo,
O homem luctar co'a sorte;

Se é Deus... oh! não! não pode
Do amor o foco immenso,
Que abraza em fogo intenso,
Se á mente nos acode;