Página:Raios de extincta luz (Antero de Quental, 1892).djvu/74

Wikisource, a biblioteca livre
22
Raios de extincta Luz


Té que brota entre as flores da campina,
Essa não morre com a luz de um dia...
Fonte de puras aguas abundantes,
Traz do céo sua origem. Lá se esconde,
Entre nuvens, o foco que a alimenta:
Eterna, como o céo d'onde partira,
E serena, como elle, a paz e a vida,
Como elle, tem no seio e d'elle manam.

Assim d'aquelle amor. Constante e puro,
Que ardor ou calma ou sol pode seccal-o?
Que pó da terra conspurcar-lhe o brilho?

A maldade dos homens não te mancha,
Oh minha paz, oh minha pomba candida!
Na terra o caçador te aponta a flecha,
E o tiro parte em vão. Como tocar-te,
Se tão alto voaste, e o dardo apenas
Mediu a meia altura que levavas?
A flecha cae na terra... ao céo tu foges!

Vae pomba immaculada! irei comtigo
Abrigar-me tambem no seio eterno,