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A justiça, coitadinha! apalpou d'aqui e d'ali, n'uma cegueira... Desconfiou-se do Ruço, mas que é das provas? O Ruço era mais fino que o delegado, o promotor, o juiz, mais até que o vigario da villa, um padre gozador da fama de enxergar atravez das paredes.

A viuva chorou como mamoeiro lanhado, fosse de sentimento, de remorso, ou para illudir aos outros — talvez sem calculo nenhum, pelos tres motivos.

Manoel permaneceu na casa.

Viviam como filho e mãe, dizia ella; como marido e mulher, resmungava o povo.


O sitio, porém, entrou logo a desmedrar. Comiam do plantado, sem lembrança de metter na terra novas sementes. O moço ambicionava vender as bemfeitorias para mergulhar no Oeste e, como Rosa reluctasse, deu de maltratal-a.

Estes amores serodios são como a vide, mais judiam com elles, mais reviçam. A's brutalidades do Ruço respondia a viuva com redobros de carinhos. Seu peito maduro, onde o verão em declinio annunciava a invernia proxima, chammejava em fogo bravo, desses que roncam nas retranças dos taquarussu's. E isso vingava Elesbão, esse amor sem geito, sem conta, sem medida, duas vezes criminoso, sobre sacrilego e, o que era peior, aborrecido pelo facinora já farto.

— Córóca! Sapiquá de defunto! Cangalha velha!

Não havia insulto, com o peão do veneno plantado na nota da velhice, que lhe não desfechasse, o ingrato.

Rosa depereceu a galope. Adeus, gordura! Boniteza outoniça, adeus! Saias a rufar, te-