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em esteio de máus cavalleiros em transe de corcóvos.

Não fugiram á praxe as velhas fazendas. Rara é a que toma o nome d'algum estygma peculiar ao feitio topographico, escapando desse modo á santificação.

Ha-as, porém, e entre estas a fazenda do Atoleiro, propriedade do major João Lucas.

A quarto de legua do arraial do mesmo nome, seus quinhentos alqueires de massapê vêm morrer á espalda do povoado, rente ao pequenino cemiterio de taipa.

De permeio entre este e um tracto de mattas virgens, dormita de papo acima o atoleiro que deu figa aos santos. Pégo de insidiosa argila negra, fraldejado por coroa de velhos guembês nodosos, a tabu a esvelta cresce-lhe á tona, viçosa na folhagem erectil como espadas verdes que as brisas tremelicam. Pela inflorescencia, longas varas soerguem-se a prumo sustendo no apice um chouriço côr de telha que, maturado, se esbruga em paina esvoaçante. Corre entre seus talos a batuira arisca de longo bico, e saltita pelas hastes a corruila do brejo, cujo ninho bojudo se ouriça, tramado de aculeos, nos espinheiros marginaes.

Fóra disso răs, mimbuias pensataivas e, a rabear velocissima nas pocas verdinhentas d'algas, a trahira, o voraz esqualosinho do lodo. Um brejo, emfim, como cem outros.

Notabilisa-o, porém, a profundez. Ninguem ao vel-o tão calmo sonha o abysmo trahidor occulto na verdura. Dois, tres bambu's emendados que lhe tentem alcançar o fundo subvertem-se no lodo sem alcançar pé.

Além de varios animaes sumidos nelle, contava-se o caso tragico dum portuguez teimoso que, na birra de salvar um burro já atolado