Página:Urupês (1919).pdf/107

Wikisource, a biblioteca livre
— 102 —

a meio, se viu tragado lentamente pelo barro maldito. Desd'ahi ficou o atoleiro gravado na imaginativa popular como uma das boccas do proprio inferno.

Transposto o abysmo a vegetação encorpa até constituir a matta, por cujo seio corre a estrada mestra da fazenda.

Pela manhã daquelle dia passára ali o troly do major, de volta da cidade.

Além do velho, de sua mulher Don'Anna e de Christina, a filha unica, vinha, a passeio, o bacharel Eduardo, primo longe e noivo da moça. E áquella hora ouviam todos na varanda, da bocca do Vargas, fiscal, a noticia do succedido durante a ausencia.

Já contára Vargas do café, da puxada dos milhos e estava na criação.

— Porcos, têm sumido alguns. Uma leitôa rabicó e um capadete malhado dos "Polanchan" ha duas semanas que moita. Para mim, ninguem me tira da cabeça, o ladrão foi o negro, inda mais que essa criação costumava alongar das bandas do brejo. Eu estou sempre dizendo: é preciso tocar de lá o raio do maldelazento. Aquillo, Deus me perdoe, é bicho ruim inteirado. Mas não "querem" me acreditar...

O major sorriu áquelle "querem". Vargas tinha ogerisa velha ao misero Boccatorta, não perdia ensanchas de lhe attribuir maleficios, e de estumar o patrão a correr com elle das terras, que aquillo, Nossa Senhora, até enguiçava uma fazenda!

Interessado, o moço indagou do estranho personagem.

Boccatorta é a maior curiosidade da fazenda. Filho d'uma escrava de meu pae, nasceu, o coitado, disforme e horripilante como não ha memoria de outro. Um monstro.