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Christina consultou-se por uns momentos e,

— Póde ser, disse, talvez vá, mas não prometto. Na hora veremos... se ha coragem.


A maturação do espirito em Christina desbotára a vivacidade nevrotica dos terrores infantis. Inda assim vacillava. Renascia o medo antigo como renasce a encarquilhada rosa de Jerichó por contacto de humilima gotta d'agua. Vexada de surgir aos olhos do noivo tão infantilmente medrosa, deliberou que iria, mas desde esse instante uma imperceptivel sombra annuveou-lhe o rosto.

Ao jantar foram o assumpto as novidades do arraial, eternas novidades de aldeia, o fulano que morreu, a sicrana que casou. Casára um boticario e morrera uma menina de quatorze annos muito chegada á gente do major. Condoida particularmente, Don'Anna não a tirava da idéia.

— Pobre da Luizinha! Não me sae dos olhos o geito della, tão galante, quando cá vinha pelas jaboticabas, ali, áquella porta — Dá licença Don'Anna! — tão cheia de vida, vermelhinha do sol... Quem diria!...

— E inda por cima a tal historia do cemiterio... — interveio Christina. Papae soube?

Corriam no arraial rumores macabros. O coveiro, no dia seguinte ao enterramento, topou a sepultura remexida como se fôra violada durante a noite, e viu na terra fresca pegadas mysteriosas de uma "coisa" que não seria bicho nem gente deste mundo.

Já duma feita succedera caso identico por morte da Sinházinha Esteves; mas todos duvidaram da integridade dos pobres miolos do coveiro sarapantado.

— Esses incréus não mofavam agora do vi-