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sionario porque o padre e outras pessoas de boa cabeça, chamadas a testemunhar o facto. confirmavam-n'o.

Eduardo, imbuido do scepticismo bacharelesco dos moços de cidade grande, metteu a riso o caso com muita fortidão de espirito.

— A gente da roça duma folha d'embau'va pendurada no barranco faz logo, pelo menos, um lobishomem, mais tres mulas sem cabeça. Esse caso do cemiterio: um cão vagabundo entrou lá e arranhou a terra. Está ahi todo o grande mysterio!

Christina objectou:

— E os rastos?

— Os rastos! Estou a apostar em como taes rastos são os rastos do proprio coveiro. O terror impediu-lhe de reconhecer o molde do casco...

— E o padre Lysandro? acudiu Don'Ana para quem um testemunho tonsurado era documento de muito peso.

Eduardo cascalhou uma risada anticlerical e trincando um rabanete, expectorou:

— Ora o Padre Lysandro! Pelo amor de Deus, Don'Anna! O Padre Lysandro é o proprio coveiro de batina e coroa! A proposito...

E contou a proposito varios casos daquella marca, os quaes, no correr do tempo, vieram a explicar-se naturalmente, com grande cara d'asno dos coveiros e Lysandros respectivos.

Christina ouviu, com o espirito absorto em seismas, a bella demonstração geometrica. Don'Anna concordou da bocca para fóra, — por amabilidade. Mas o major, esse não piou nem sim nem não. A experiencia da vida ensinara-lhe a não affirmar com despotismo nem negar com "oras".

— Ha muita coisa exquisita neste mundo... dizia, traduzindo involuntariamente a safada