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fecia amiude ante suas repentinas fugas. Elle a percebia longe de si, ou pelo menos introspectiva em excesso, — reticencia que o amor não vê de boa cara. E á medida que caminhavam recrescia aquella exquisitice. Um como intactil norcego diabolico riscava-lhe na alma voejos presagos. Nem o estimulante das brisas asperas, nem a ternura do noivo, nem o "cheiro de natureza" exsolvido da terra eram de molde a esgarçar a mysteriosa bruma de lá dentro.

Eduardo interpellou-a por fim:

— Que tens hoje, Christina? Tão sombria... E ella, num sorriso triste:

— Nada!... Porque?

Nada... E' sempre nada quando o que quer que é lucila avisos informes na escuridão do subconsciente, como os ziguezagues subtilissimos do sismographo em prenuncio de remota commoção tellurica. Mas esses nadas são tudo!...

— A' esquerda, pelo trilho!

A voz do major chamou-os á realidade. Um carreiro mal batido na macega esgueirava-se em colleios até á beira d'um corrego onde todos se reuniram de novo.

O major tomou a frente, e guiou-os matta a dentro pelos meandros d'uma velha picada.

Era ali o matto sinistro onde se alapavam Boccatorta e o seu cachorro lazarento, Merimbico, nome tresandante a satanismo para o faro do povileu, sem que o soubessem porque. A's sextas-feiras, na voz corrente do arraial, Merimbico virava lobishomem e se punha de ronda ao cemiterio com muitos uivos á lua e aboccamentos ás pobres almas penadas, coisa muito de arrepiar.

O sombrio da malta enoiteceu de vez a alma de Christina.