Eduardo não teve mão de si; aquelle riso naquella cara excedia á sua capacidade de horripilação. Voltou o rosto enojado e se foi para onde as mulheres, murmurando:
— E' demais! E' de fazer mal a nervos de aço!
Seus olhos encontraram-se com os de Christina e viram nelles a expressão de pavor da avesinha engrifada nas pu'as da suindára, o pavor da morte...
Quando sahiram da floresta, morria a tarde sob a chibata d'um vento precursor de chuva. Don'Anna arreceou-se pela filha.
— Foi imprudencia, Christina, vires sem ao menos um chalinho na cabeça. Queira Deus!...
A moça não respondeu. D'olhos baixos, retransida, aspirava a largos haustos o ar gelado para desafogo d'um aperto de coração nunca sentido fóra dos pesadelos.
O mal, entretanto, recalcitrava ás chasadas e aos sudoriferos.
Chamou-se o boticario da villa. Veiu a galope o Macario e diagnosticou pneumonia.
Quem já não assistiu a uma dessas subitaneas desgraças que de golpe se abatem, qual negro avejão de preza, sobre uma familia feliz, e estraçoam tudo quanto representa nella a alegria, a esperança, o futuro?
Noites em claro, dias morosos, janellas cerradas, cochichos pelos cantos, o rumor dos passos abafado...
E o doente a peiorar... O medico da casa, apprehensivo, com vincos na testa... Dias e dias, o duello contra a molestia incoercivel... A desesperança afinal, o irremediavel antolhado imminente, a morte presentida de ronda ao quarto...