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Ao oitavo dia foi Christina desenganada e no decimo plangia o sino do arraial o seu prematuro fim.


— Morta!...

Eduardo escondia as lagrimas entre as almofadas do leito repetindo cem vezes a mesma palavra.

— Morta!...

Alcançava-lhe agora o significado tremendo, e, no entanto, quantas vezes a ouvira como a um som vazio de sentido!

A imagem de Christina morta, a esfervilhar na dissolução, sob a terra gelada, contrapunha-se ás visões da Christina viva, toda mimos d'alma e corpo, radiosa manhã humana de cuja luz toda se impregnára sua alma.

Cerrando os olhos revia-a ao seu lado, durante o passeio fatal, envolta nas brumas mysteriosas de vagos presentimentos. Recordava-lhe as palavras dubias, a vacillação. E arrepelava-se por não ter adivinhado na repulsa da moça os avisos informes de qualquer coisa mysteriosa que tenazmente a defendia. Taes pensamentos enxameantes em torno á carne viva da sua dôr coavam nella venenos crueis.

Fóra, o sol redoirava cru'amente a vida.

Brutalidade!...

Morria Christina e não se desdobravam crepes pelo céu, nem murchavam as folhas das arvores, nem se recobria de cinzas a terra!

Espesinhado pela indifferença das cousas, fechou-se na clausura de sí proprio, torvo e dolorido, sentindo-se amarfanhar sob a pata cruel do destino.

E assim passavam-se as horas.

Noite alta, acudiu-lhe a idéa de correr ao cemiterio para beijar num ultimo adeus o tumulo da noiva.