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chão e enleado nelle um vulto vivo, negro como um polvo.

O pae de Christina desferiu um rugido de féra. e qual féra mal ferida arrojou-se d'arremesso para cima do monstro. A hyena, mau grado a surpreza. escapou ao bote e fugiu. E coxeando, cambaio, semi-nu, tropeçando nas cruzes, galgando tumulos com agilidade inconcebivel em semelhante creatura. Bocca-torta saltou o muro e fugiu, seguido de perto pela sombra esganiçaute de Merimbico.

Eduardo concentrava todas as forças para acompanhar o desenlace do drama, quando viu passar rente de si o vulto asqueroso no necrophilo para logo desapparecer mergulhado ma massa rendilhada dos velhos guembês.

Voando-lhe no encalço viu passar em seguida o vulto dos perseguidores.

Houve uma pausa em que só lhe feriu os ouvidos o rumor da correria.

Depois, gritos de colera d'envolta a um grunhir de queixada cahido em mundeu, e tudo se misturou no barulho d'uma lucta que o uivo intercadente de Merimbico dominava lugubremente.

O moço correu a mão pela testa gelada: estaria sob as garras d'um pesadelo? Não; não era sonho. Disse-lh'o a voz alterada do feitor esboçando o epilogo da tragedia:

— Não atire! Não merece. Pr'a que serve o barro?

E logo após sentiu recrudescer a lucta, entre imprecações de colera e os grunhidos cada vez mais lamentosos do monstro.

E ouviu farfalhar o matto como se arrastassem por elle um corpo manietado, a debaler-se em convulsões violentas.

E ouviu um rugir de supremo desespero.