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Trancoso, refestelado n'uma preguiçosa, transfez o sopor da digestão em quebreira poetica.

— Este cri-cri dos grillos, como é encantador! Eu adoro as noites estrelladas, o bucolico viver campesino, tão sadio e feliz!...

— Mas é muito triste, aventurou Zilda.

— Acha? Gosta mais do canto estridente da cigarra em pleno sol? disse elle amelaçando a voz. E' que no seu coraçãosinho ha qualquer nuvem à sombreal-o...

Vendo Moreira assim atiçado o sentimentalismo, e desta feita passivel de consequencias matrimoniaes, houve por bem dar uma pancada na testa e berrar: "Oh, diabo não é que me ia esquecendo do..." Não disse do que nem era peciso. Saiu precipitadamente deixando-os sós..

Continuou o dialogo, mais mel e rosas.

— O senhor é um poeta! exclamou Zilda a um regorgeio dos mais sucados.

— Quem o não é, debaixo das estrellas do céu, ao lado d'uma estrella da lerra?

— Pobre de mim! suspirou a menina palpitante.

Tambem do peito de Trancoso subiu um suspiro. Seus olhos alçaram-se a um cirro que fazia no ceu as vezes da Via-Lactea, e sua bocca murmurou em soliloquio um rabo d'arraia desses que derrubam meninas:

— O amor!... A via lactea da vida!... O aroma das rosas, a gaze da aurora!... Amar, ouvir estrellas... Amai, pois só quem ama entende o que ellas dizem!

Era zurrapa de contrabando; não obstante, ao paladar inexperto da menina, soube a Lacryma-Christi. Ella sentiu subir á cabeça um vapor. Quiz retribuir. Deu busca aos ramilhe-