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Todos concordaram, louvando-o cada um a seu modo. E assim, mesmo ausente, o gentil ricaço preoccupou a casa durante a semana inteira.


Mas a semana transcorreu sem que viesse a resposta ambicionada. E mais outra. E outra ainda. Escreveu-lhe Moreira, já apprehensivo. Nada. Lembrou-se d'um amigo, morador na mesma cidade, e endereçou-lhe carta pedindo que obtivesse do capitalista a solução definitiva. Quanto ao preço abutia alguma cousa. Dava a fazenda por 55, por 50 e até por 40, com criação e mobilia.

O amigo respondeu sem demora. Ao rasgar do enveloppe os quatro corações da Espiga pulsaram violentamente: aquelle papel encerrava o destino de todos quatro.

Dizia a caria: "Caro Moreira. Ou muito me engano ou estás illudido. Não ha por aqui nenhum Trancoso Carvalhaes capitalista. Ha o Trancosinho, filho da Nha Veva, vulgo Sacatrapo. E' um espertalhão que vive de barganhas e sabe illudir aos que o não conhecem. Ultimamente tem corrido o Estado de Minas, de fazenda em fazenda, sob varios pretextos. Finge-se ás vezes de comprador, passa uma semana em casa do fazendeiro, a caceteal-o om passeios pelas roças, e exames de divisas; come e bebe do bom, namora as criadas, ou a filha, ou o que encontra, — é um vassoura de marca! — e no melhor da festa raspa-se. Tem feito isto um cento de vezes, mudando sempre de zona. Gosta de variar de tempero, o patife. Como aqui Trancoso só ha este, deixo de apresentar ao pulha a tua proposta. Ora o Sacatrapo a comprar fazenda!"

Moreira cahiu numa cadeira, aparvalhado, com a carla sobre os joelhos. Depois o san-