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ciada a que chamam nota impressionista, franzem o nariz. Querem saber, e fazem muito bem, se Fulano morreu, se a menina casou e foi feliz, se o homem afinal vendeu a fazenda, a quem, e por quanto.

Sã, humana e respeitabilissima curiosidade!

— Vendeu a fazenda o pobre Moreira?

Peza-me confessal-o: não! E não a vendeu por artes do mais inconcebivel de quantos qui-pró-quós tem armado neste mundo o diabo — sim, porque afóra o tinhoso, quem é capaz de intrincar os fios da meada com laços e nós cegos justamente quando vae a feliz remate o croché?

O acaso deu a Trancoso uma sorte de cincuenta contos na loteria. Não se riam. Porque motivo não havia Trancoso de ser o escolhido, se a sorte é cega e elle trazia no bolso um bilhete? Ganhou os 50 contos, dinheiro para um pé-atraz d'aquella marca significativo de grande riqueza.

De posse da maquia, após semanas de tonteira, deliberou afazendar-se. Queria tapar a bocca ao mundo realisando coisa jamais passada pela sua cabeça: comprar fazenda.

Correu em revista quantas visitára nos annos de malandragem, propendendo afinal para a Espiga. Ia nisso, sobretudo, a lembrança da menina, dos bolinhos da velha, e a ideia de metter na administração ao sogro, de geito a folgar-se uma vida vadia de regalos, embalada pelo amor da Zilda e os requintes culinarios da sogra.

Escreveu, pois, ao Moreira annunciando a sua volta afim de fecharem negocio.

Ai! Quando tal carta penetrou na Espiga houve rugidos de colera entremeiados de bufos de vingança.