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nomicas e sociaes, chovem-lhe em cima as meteorologicas.

O tempo inclemente não lhe poupa judiarias. No verão não se dóe o sol de assal-o como se assam pinhões ao forno; se chove, de nenhuma gotta se livra; pelos fins de maio, á entrada do frio, é entanguido, como um subdito do Tzar na Siberia, que devora as leguas infernaes. No dia de S. Bartholomeu, agarrado de unhas á crina da escanzellada egua, é por milagre que não os despeja a ambos, perambeiras abaixo, o endemoninhado vento.

O patrão-governo presuppõe que elle é de ferro e suas nadegas de aço chromatado; que as estradas são umas ruas d'asphalto forradas de pellucia; que o tempo é um permanente céu azul com brisas fagueiras occupadas em soprar sobre os caminhantes os olores suaves da “balsamina em flor”. .

Presuppõe ainda que os cem mil réis do salario são uma paga real de lamber as unhas. E nestas angelicaes presupposições, quando ha crise financeira e lhe lembram economias, corta seus cinco, seus dez mil réis no pingue ardenado para que haja sobras permittidoras d'ir á Europa um cunhado bacharel, em commissão de estudos sobre “a influencia zygomalica do perihelio solar no regimen zarathrustico das democracias latinas”.

E assim o exercito dos estafetas, dia a dia mais escanifrado, encalacrado de dividas, enchagado de pisaduras, ao sol de Dezembro ou á garôa entanguente de Junho, trota, trota sem cessar, morro acima, morro abaixo, por atoleiros e areaes, caldeirões e escorregadoiros, sacudido pela miseranda cavalgadura que, de tanto padecer, coitada, já nem geito de cavallo tem. O lombo della é todo