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to o paciente estar de cama, a curar-se com salmoura. Mas casos destes são raros. O vulgar é a demissão.

O suppliciado, posto d'est'arte no olho da rua, sem saude, sem cavallo, sem nadegas, coberto de dividas, com o figado e mais visceras fóra do lugar, por via do muito que "chacoalharam". vê-se logo rodeado pela chusma dos credores avidos como urubu's de saladeiro. Como está nu, mais nu que Job, não póde pagar a nenhum. Ganha fama de caloleiro.

— Parecia um homem sério e no entanto roubou-me cinco alqueires de milho, diz o da venda, calabrez gordo, enricado no passamento de notas falsas.

— Tomou-me emprestados cem mil réis para um cavallo, a jurinho d'amigo (3 o|o ao mez) já lá vão cinco annos, e por muito favor me pagou o premiosinho e deu os arreios por conta. Que ladrão! — diz o onzeneiro, socio do outro na moeda falsa.

A loja de fazendas chóra umas calças de algodão mineiro que lhe fiou em tempo. A pharmacia um kilo de sal-amargo falsificado. E o martyr, abeberado d'insultos, só vê uma sahida: fincar o pé na estrada e fugir... fugir para uma terra qualquer onde o desconheçam e o deixem morrer em paz.

De modo que o moderno supplicio do estafetamento, além de xarquear as carnes duma creatura humana limpa de crimes, dá-lhe, de lambujem, uma bella mortesinha moral.

Tudo isto afim de que não falte aos soletradores e taes e taes bibocas desservidas de trem de ferro o pabulo diario da graxa preta em fundo branco, por meio da qual se estampam em lingua bunda as facadas que deu o Pé Espalhado no Camisa Preta, o queijo que furtou o Bahianinho ao Manoel da Venda, o