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que teve com o chefe, as objecções que lhe chegavam á bocca transmutavam-se no habitual "sim senhor", de modo a convencer o coronel de que realisava elle um ideal.

— Vê você, Biriba, quanto vale a fidelidade. Pilhas um empregão! Vae o Regino para agente e você para estafeta.

O mais que pôde allegar foi que não tinha cavalgadura.

— Arranja-se, resolveu de prompto o curonel, tenho lá uma egua moira, passo picado, legitima, que vale duzentos mil réis; por ser para você, dou-a por metade. O dinheiro? E' o de menos. Tomas emprestado ao Leandrinho. Arranja-se tudo.

O arranjo foi adquirir Biriba a egua trotona pelo dobro do valor, com dinheiro tomado a tres por cento ao mez ao tal Leandro, que outra cousa não era senão o tesla de ferro do proprio Fidencio. Dess'arte, carambolando, o matreiro chefe punha a juros o peior sendeiro da fazenda, além de conservar pelo cabresto da gratidão ao idiota estafetado.

Iniciou Biriba o serviço: seis leguas diarias a fazer hoje e a desfazer amanhã, sem outra folga além dos dias trinta e um dos mezes impares.

Inda bem se fôra devorar as leguas na só companhia da chupada mala postal. Mas não lhe saiu serena assim a empreza. Como Itaóca não passasse de mesquinho logarejo, empoleirado no espinhaço da serra e desprovido de tudo, não transcorria vez sem que amigos politicos o não procurassem com encommendas a aviar na cidade. A' hora de partir surgiam aproveitadores com listinhas na mão, de miudezas, ou recados, por pretinhos.

— Sinhá disse assim p'rá suncê comprar tres carreteis de linha cincoenta, um papel de