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Ao avistarem-me calaram-se, e fugiram, com excepção da mais taluda que permaneceu no lugar, esfregando os olhos avermelhados e lacrimosos do fumo.

— Papae está?

Estava e ia chamal-o, respondeu, esgueirando-se pela casa a dentro. As outras, com o dedinho na bocca, vi-as a me espiarem da porta, onde logo assomou esbelta menina ahi entre 14 e 16 annos, d'avental azul e corada como quem esteve a lidar em forno.

— Faça o favor de entrar, — disse-me com linda voz, sorridente, de passo que seus olhos vivos todo me examinavam d'alto a baixo, num relance, — sente-se, e espere um bocadinho.

Sentei-me, gozando o delicioso frescor da sala e puxei conversa.

— A menina é filha do...

— Não senhor. Prima. Mas moro aqui des'que me morreram os paes.

— Tão nova e já orphan!...

— De pae e mãe. Tinha seis annos quando os perdi na febre amarella de Campinas. O primo trouxe-me de lá, e...

Aqui rangeu a porta e enquadrou-se nella o dono da casa. Reconhecemo-nos incontinente, com igual espanto.

— Bruno! berrou elle. Que milagre!

— E tu, Fausto, onde te vim desentocar, eu que esperava ver surgir um matutão desconfiado!

Abraços, explicações, perguntas atropeladas. Fausto não cessava de admirar a coincidencia.

— Ha quantos annos não nos vemos? Dez pelo menos...

— Desd'a opa da collação. Como passa o tempo!...