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A vista do cafesal interrompeu-nos as confidencias. Era Setembro, e o aspecto das arvores estrelejadas de florinhas dava uma sensação farta de riqueza e futuro. Corremol-o em parte, gozando o "prazer paulista" de ver ondular por espigões e grotas a onda verde escura dos cafeeiros alinhados.

— No teu caso, perguntei, foste feliz ?

Fausto retardou a resposta, mastigando-a.

— Não sei. Cedi os cincoenta, e espero que minha mulher imite a minha abnegação. Ella porém, mais tenaz, embirra em não chegar a tanto. Procuramos o equilibrio, ainda...

— E Laura? perguntei estouvadamente.

Fausto voltou-se de golpe, ferido pela pergunta. Encarou-me a fito, vacilante em revelar-me o fundo de sua alma. Depois, como atravessassemos um sombrio pedaço de caminho com, barraneo acima, avencas viçosas, samambaias e begonias agrestes, disse, apontando para aquillo:

— Sabes o que é uma face noruega? Cá a tens. Não bate o sol, muita folha, muito viço, verdes carregados, mas nada de flores ou fructos. Sempre esta frialdade humida. Laura… é como um raio de sol matutino que folga e ri na face noruega da minha vida.

Calou-se, e até á casa não mais pronunciou palavra.

Comprehendi a situação do meu querido Fausto, e não lhe invejei as riquezas adquiridas por semelhante preço.


Deixei o Paraiso, que assim chamavam á fazenda, com tres impressões n'alma; deliciosa a da menina dos bolinhos, no seu avental azul, corada como as romãs; penosa a da megéra entrevista na creatura feia e má, rica o sufficiente para adquirir marido como quem