— A senhora... comecei eu a perguntar não sabia ainda o quê.
— Sinhá está no quarto. Andou pelo pomar, e depois se trancou por dentro, não quer enxergar ninguem, parece que comeu a caninana.
O coração palpitou-me violento e sahi em procura de Laurinha. Na colonia ninguem a vira. Lembrei-me do pinhal e organisei uma alvoroçada batida ao bosque. Com fachos incendidos de galhaça morta quebramos a escuridão reinante. Nada. Eu desanimava já de encontral-a por ali quando um capataz, desgarrado na frente, gritou:
— Está aqui o cestinho !
Corremos todos. Estava a cestinha, e mais adiante... o corpo frio da menina. Morta, a bala ! A blusa entreaberta mostrava no entre-seio a ferida mortal: um pequeno furo negro donde fluia para as costellas uma estria de sangue. Ao lado da mão direita inerte, o meu revólver. Suicidára-se...
Não te digo o meu desespero. Esqueci mundo, conveniencias, tudo, e beijei-a longamente, entre arquejos e sacões de angustia.
Trouxeram-n'a a braços. Em casa, minha mulher, então gravida, recusou-se a ver o cadaver com o pretexto do estado, e Laura desceu á cova sem que ella por um só momento deixasse a clausura. Note você isto: "minha mulher não viu o cadaver da menina".
Dias depois, humanisou-se. Deixou a cella, voltando á vida costumeira, muito mudada de genio, entretanto. Cessára a exaltação ciumosa do odio, vindo em lugar um mutismo sombrio. Pouquissimas palavras lhe ouvi d'ahi por diante.
A mim o suicidio de Laura. sobre abalar-me o organismo como o peior dos terremotos,