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quecidas, consumiram-se tabas inteiras de Aymorés sanhudos, com pennas de tucano por fora e virtudes romanas por dentro.

Vindo o publico a bocejar de farto, já sceptico pelo desmantelo crescente do ideal, cessou no mercado literario a procura de bugres homericos, inubias. tacapes, borés, piagas e virgens bronzeadas. Armas e heróes desandaram, cabisbaixos, rumo ao porão onde se guardam os moveis fóra d'uso — saudoso museu de extinctas pilhas electricas que a seu tempo galvanisaram nervos. E lá acamam poeira cochichando reminiscencias com barba de D. João de Castro, os frankisks de Herculano, os frades de Garrett e que taes...

Não morreu, todavia. Evoluiu. O indianismo está de novo a deitar copa, de nome mudado. Chrismou-se de caboclismo. O cocar de pennas de arara passou a chapeu de palha rebatido á testa ; a ocára virou rancho de sapė ; o tacape afilou, criou gatilho, deitou ouvido e é hoje espingarda troxada; o boré descahiu lamentavelmente para pio de inambu'; a tanga ascendeu a camisa aberta ao peito.

Mas o substracto psychico não mudou: orgulho indomavel, independencia, fidalguia, coragem, virilidade heroica, todo o recheio, em summa, sem faltar uma azeitona, dos Perys e Ubirajáras.

Este setembrino rebrotar duma arte morta inda se não desbagoou de todos os fructos. Terá seu "Y — Juca — Pyrama", seu "Canto do Piaga" e talvez dê opera heroica.

Completo o cyclo, virão destroçar o inverno em flor da illusão indianista os prosaicos demolidores de idolos, gente má e sem poesia. Irão os malvados esgaravatar o icone com a cureta da sciencia. E que feias se hão de entrever as caipirinhas côr de jambo de Varella !