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quarta perna ao banco. Para que? Vive-se bem sem ella.

Se pelotas de barro cahem, abrindo setteiras na parede, Geca não se move a repol-as. Ficam as janellinhas abertas para o resto da vida, a entremostrar nesgas de céu.

Se a palha do tecto, apodrecida, gréta em fistulas, por onde pinga a agua da chuva, Geca, em vez de remendar a tortura, limita-se, cada vez que chove, a aparar numa gamellinha a agua gottejante.

Remendos... para que? se uma casa dura dez annos e faltam "apenas" oito para abandonar aquella?

Esta philosophia economisa reparos.

Na mansão de Geca a perede dos fundos bojou para fóra um ventre empanzinado, ameaçando ruir; os barrotes, cortados pela humidade, oscillam na podriqueira do baldrame. Afim de neutralisar o desaprumo, e prevenir suas consequencias, grudou nella uma Nossa Senhora enquadrada em moldurinha amarella — santo de mascate.

— Porque não remenda essa parede, homem de Deus?

— Ella não tem coragem de cahir. Não vê a "escora"?

Não obstante, por via das duvidas, quando ronca a trovoada elle abandona a casa e vai agachar-se no ôco d'um velho embirussu' do quintal, para se saborear de longe a efficacia da escora santa.

Um tôco de páu dispensaria o milagre, mas entre espetar o santo e tomar da foice, subir ao morro, cortar a canjerana, atoral-a, baldeal-a e especar a parede, o sacerdote da Grande Lei não vacilla. E' coherente.

Um terreirinho descalvado rodeia a casa. O matto beira com elle. Nem arvores fructife-