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ras, nem horta, nem flôres — nada revelador de permanencia.

Ha mil razões para isso: porque não é sua a terra; porque se o "tocarem" não ficará nada que a outrem aproveite; porque para fructas ha o matto: porque a "criação" estraga, porque...

— Mas, creatura, com um vedosinho por alli... A madeira está á mão, o cipó é tanto...

Geca, interpellado, olha para o morro coberto de moirões, olha para o terreiro nu', coça a cabeça e cuspilha.

— Não paga a pena.

Todo o inconsciente philosophar da raça grulha nessa palavra atravessada de fatalismo e modorra. Nada paga a pena. Nem culturas, nem commodidades. De todo o geito se vive.

Da terra só quer a mandioca, o milho e a canna. A primeira por ser um pão já amassado pela natureza; basta arrancar uma raiz e deital-a ás brazas. Não impõe colheita, não exige celleiro. O plantio se faz com meio palmo de rama fincada em qualquer terra. Não pede cuidados. Não a ataca a formiga. E' sem-vergonhia.

Bem ponderado, a causa principal da lombeira da roça reside nas benemerencias sem conta da "manihot utilissima". Talvez que sem ella o caboclo se puzesse de pé, e andasse. Emquanto dispuzer de um pão cujo preparo se resume no plantar, colher e lançar sobre brazas, Geca não mudará de vida.

O vigor das raças humanas está na razão directa da hostilidade ambiente. Se o hollandez extrahiu a Hollanda, essa joia do esforço, de um brejo salgado, a poder de estacas e diques, é que nada ali o favorecia.

Se a grande Inglaterra saiu das ilhas empodradas e nevoentas da Caledonia é que não