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gião, confundem-se ambas em maranhada teia, não havendo distinguir onde uma pára e outra começa.

A ideia de Deus e dos santos torna-se caboclocentrica. São elles ou grau'dos lá de cima, coroneis celestes, debruçados no azul para espreitar-lhes a vidinha e intervir nella, ajudando um e castigando outro, como os mettediços deuses de Homero. Uma torcedura de pé, um estrépe, o feijão entornado, o pote que rachou, o bicho que arruinou, tudo diabruras da corte celeste para castigo de más intenções ou actos. Dahi o fatalismo. Se tudo movem cordeis lá de cima, para que luctar, reagir? Deus quiz. A maior catastrophe é recebida com esta exclamação, muito parenta do Allah Kébir do beduino.

E na arte? Nada.

A arte rustica do camponio europeu é rica a ponto de constituir preciosa fonte de suggestões aos artistas de escól. Em nenhum paiz o povo vivo sem recorrer a ella para um ingenuo embellezamento da vida. Já não se fala do camponez italiano ou teutonico, filho de alfobres mimosos, propicios a todas as florações estheticas. Mas o russo, o hirsuto mujik a meio atolado em barbarie crassa. Os vestuarios nacionaes da Ukrania, nos quaes a côr viva e o sarapantado da ornamentação indicam a ingenuidade do primitivo, as isbas da Lithuania, sua ceramica, os bordados, os moveis, os utensilios de cosinha, tudo revela no mais rude dos camponios o sentimento nativo da arte.

No Samoyeda, no pelle-vermelha, no abexim, no papu'a, um arabesco ingenuo costuma ornar-lhes as armas, como lhes ornam a vida canções repassadas de rythmos suggestivos. Que nada é isso sabido como já o homem