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como o Argas aos gallinheiros, o "Sarcoptes mutans" á perna das aves domesticas.

Poderiamos analogicamente classifical-o como um "Porrigo decalvans", productor da "pellada" das montanhas, pois, onde assiste, se vae ella despojando da coma vegetal até cahir em morna decrepitude, nu'a e escalvada. Em quatro annos, a mais ubertosa região se despe dos jequetibás e perobeiras millenarias, seu orgulho e grandeza, para, em achincalhe crescente, cahir em capoeira, passar desta á humildade da vassourinha, e, decahindo sempre, encru´ar definitivamente na desdita do sapeseiro, — sua tortura e vergonha.

Este funesto parasita da terra é o caboclo, especie de homem baldio, semi-nomade, inadaptavel á civilisação, mas que vive á beira della, na penumbra das zonas fronteiriças. A' medida que o progresso vem chegando com a via ferrea, o italiano, o arado, a valorisação das terras vae elle refugindo em silencio, com o seu cachorro, o seu pilão, a sua pica-páu, o seu isqueiro, de modo a sempre conservar-se fronteiriço, mudo e sorna. Encoscorado em uma rotina de pedra, recu'a, mas não se adapta.

E' de vêl-o abordar a um sitio novo para nelle armar a sua arapuca de "aggregado"; nomade, por força de vagos atavismos, não se liga á terra, como o camponio europeu, "aggrega-se-lhe", tal qual o "sarcoptes", pelo tempo necessario á completa sucção da seiva convizinha; feito o que, salta para adiante com a mesma bagagem com que alli chegou.

Vem de um sapesal para criar outro. Coexistem em intima symbiose: sapé e caboclo são idéas associadas. Este inventou aquelle e lhe dilata os dominios; em troca disso o sapé