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queima, entra em funcções o isqueiro. Mas aqui o "sarcopte" se faz raposa. Como não ignora que a lei impõe aceiros de dimensões sufficientes á circumscripção do fogo, urde traças para illudir a lei, cocando dest'arte a velha preguiça e a velha malignidade. Foi neste momento que o viu o poeta.

"Scisma o caboclo á porta da cabana”.

Scisma, de facto, não devaneios lyricos, mas geitos de transgredir as posturas com a responsabilidade a salvo. E consegue-o. Arranja sempre um "alibi" demonstrativo de que não esteve lá no dia do fogo.

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Onze horas.

O sol quasi a pino queima como chamma. Um "sarcopte" esgueira-se por ali, resabiado. Some-se. Minutos após crepita uma labareda medrosa na touça mais secca; oscilla, incerta; ondeia ao vento; logo encorpa, cresce, avulta, tumultua infrene e, senhora do terreno, estruge fragorosa, com infernal violencia, devorando as tranqueiras, estorricando as mais altas frondes, despejando para o céu golphões de fumo escuro estrellejado de faiscas. E' o fogo de matto.

Como não o detem nenhum aceiro, invade a floresta e caminha por ella a dentro, ora frouxo, nas capetingas ralas, ora massiço, aos estouros, nas moitas de taquarussu'; caminha em treguas, moroso e tibio quando a noite fecha, insolente se o ajuda o sol.

E em arrancadas furiosas, vae galgando montes, descendo encostas, em passo lento e traiçoeiro até que o detenha a muralha natural dum rio, estrada ou rampa noruega.

Barrado, inflecte para os flancos, ladeia o obstaculo, esgueira-se para os lados, e lá continua no abrazamento implacavel. Amordaça-