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— "Pois morreu? e louco?

— "Está claro!

— "Claro lhe parece, que a mim...

— "Conhecia-o?

— "Não conhecia outra coisa. Des'que furtou a Maria Rita...

— "Que Maria Rita?

— "Pois a Maria Rita, mulher do Gercbita, então não sabe? que elle seduziu, hom'essa.

Abri a minha maior bocca e arregalei o que pude os olhos.

— "Como sabe disso?

— "E' boa. Sei porque sei, como sei que aquella gaivota que ali vae é uma e que este mar é mar. A Maria Rila era uma morena de truz, perigosa como o demo. O tolo do Gerebita derreou-se d'amores pela bisca e lá casou. E vae ella, a songuinha, mal o homem sahia no "Puru's", mettia em casa ao Cabrea. E nesse jogo viveram até que um dia fugiram juntos para outra terra. O pobre do Gerebita, se não acabou de paixão, é que é teso. Mas entrou para o pharol, o que é tambem um modo de morrer p'r'o mundo. Pois bem. A bola vira, o tempo corre, e vae senão quando quem mette o Governo no pharol, em lugar do defunto Gavriel? Ao Cabrea! Ao Cabrea que tambem andava descrente da vida porque a Rita fugira com terceiro. Coisas do mundo. Agora diz-me V. S. que o homem enlouqueceu e rodou do penedo e lá o róe o peixe. Está bem. Antes assim. Que do contrario era em ponta de faca que aquillo acabaria.


Calei-me. Ha situações na vida em que as ideias embaralham de tal arte que é de bom conselho deixal-as assentarem-se de per si, como liquidos lurvos. Eis como...