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O negociante desabotoou o cós da calça.

— Fala serio, pff! Quá! quá! quá! Olhe, Pontes, você...

Pontes largou-o em meio da frase e se foi com a alma atenazada entre o desespero e a colera. Era demais. A sociedade o A sociedade o repellia, então?

Correu outros balcões da cidade, explicou-se como melhor poude, implorou. O caso foi julgado, por voz unanime, como uma das melhores pilherias do "incorrigivel", e muita gente o commentou com a observação costumaria:

— E' sempre o mesmo! Não se emenda, o raio do rapaz! E olhem que já não é criança...

Barrado no commercio, voltou-se para a lavoura. Procurou um velho fazendeiro que despedira o feitor e expoz-lhe o seu caso. O coronel, depois de ouvir-lhe attentamente as allegações, conclusas pela offerta do allegante para capataz da fazenda, explodiu:

— O Pontes capataz! Ih! Ih! Ih!

— Mas...

— Deixe-me rir, homem, que cá na roça isto é raro. Ih! Ih! Ih! E' muito boa! Eu sempre digo: graça como o Pontes, ninguem!

E berrando para dentro:

— Maricota, venha ouvir esta do Pontes. Ih! Ih! Ih!

Nesse dia o infeliz engraçado chorou. Comprehendeu que se não desfaz do pé para a mão o que levou annos a cristallisar-se. A sua reputação de pandego, de impagavel, de monumental, de homem do chifre furado o ou da pelle, estava construida com muito boa cale rijo cimento para que assim esboroasse de chofre.

Urgia, entretanto, mudar de vida, e Pontes volveu as vistas para o Estado, patrão com-