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— O Major, ralhando um dia o escrevente, puxou aquella diplomacia como lembrete.

— Grande pasmado... Aprende com o Pontes que tem geito para tudo, e inda por cima tem graça.

Nesse dia convidou-o para jantar.

Grande exultação na alma de Pontes: a fortaleza abria-lhe as portas.

Aquelle jantar foi o inicio d'uma serie onde o screlepe, hoje "factotum" indispensavel, teve campo de primeira ordem para as evoluções tacticas.

O Major Bentes, entretanto, possuia uma invulnerabilidade: não ria, limitava suas expansões hilares a sorrisos ironicos. Pilheria que levava outros commensaes a se erguerem da mesa atabafando a bocca nos guardanapos, encrespava apenas os seus labios. E se não era a graça de superfina agudeza, o collector mofino desmontava sem piedade o contador.

— Isso é velho, Pontes, já n'um almanaque Laemmert de 1850 me lembra de o ter lido.

Pontes sorria com ar vencido; mas consolava-se dizendo lá por dentro, dos figados para o rim, que se não pegára aquella, outra pegaria.

Toda a sua sagacidade enfocava para o fito de descobrir o fraco do major. Cada homem tem predilecção por um certo genero de humorismo ou de chalaça. Este morre pela pilheria fescenina de frades bojudos. Aquelle pella-se pelo chiste bonacheirão da chacota germanica. Aquell'outro dá a vida pela pimenta da canalhice gauleza. O brasileiro adora a chalaça onde se põe a nu' a burrice tamancuda de gallegos e ilhéos — o meio mais commodo que a nossa gente achou para demonstrar-se, pelo contraste, que é ella um alho de intelligencia.