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á villa tres vezes, uma a baptisar, ontra a casar, terceira a enterrar.

Com taes casmurrices na cabeça dos velhos, a pobresinha da Pingo d'Agua — tinha esse appellido a Maria das Dores — era natural que se tolhesse na desenvoltura ao extremo de ganhar medo á gente. Fora uma vez á villa, com vinte dias, a baptisar. E já lá ia nos quatorze annos sem nunca mais ter-se arredado d'ali.

Ler? Escrever? Patacoadas, falta de serviço, dizia a mãe. Que lhe valeu a ella ler e escrever que nem uma professora, se des'que casou nunca mais teve geito de abrir um livro? Na roça como na roça.

Deixei a menina ás voltas com a rodilha e embrenhei-me por um atalho conducente á morada.

Que ruinaria!...

Da casa antiga aluira uma ala, e o restante, além da cumieira sellada, tinha o oitão fóra do prumo.

O velho pomar, roido de formiga, succumbira de inanição; tres ou quatro laranjeiras macillentas, roidas de broca, sopesando o polvo retrançado da herva de passarinho, na ancia de sobreviver abrolhavam ainda rebentos ouriçados de pu'as. Fóra d'isso mamoeiros, a silvestre goiaba, e araçás, promiscuamente com o matto invasor que só respeitava o terreirinho batido, fronteiriço á casa. Tapera, quasi, e enlurados nella, o que é mais triste, almas humanas em tapera.

Bati as palmas. O' de casa!

Appareceu a mulher.

— Está o seu Zé?

— Inda agorinha saiu, — mas não demora, foi queimar um mel na massaranduva do pasto. Apeie e entre.