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Amarrei o cavallo a um moirão de cerca e entrei. Acabadinha a Sinh'Anna. Toda rugas na cara, e uma côr... Estranhei-lh'a.

— Doença, gemeu, estou no fim. Estomago, figado, uma dor aqui no peito que responde na cacunda... Casa velha é o que é.

— Metade é scisma, disse-lhe para consolo.

— Eu é que sei, retrucou ella, suspirando.

Entrementes surgiu da cosinha uma velhota bem apessoada, no cerne, rija e tesa, que me saudou, e:

— Está espantado do geito da Nhanna? Esta gente de agora não presta para nada... Olhe que eu com 70 no lombo não me troco por ella. Criei a minha neta, inda lavo, cosinho e coso. Admira-se? Coso sim!...

— Mecê é gabola porque nunca padeceu doença, — nem dor de dente!... Mas eu? Pobre de mim! Só admiro de inda estar fóra da cova... Ahi vem o Zé.

Chegava o Alvorada. Ao ver-me abriu a cara,

— Ora viva quem se lembra dos pobres! Não pego na sua mão porque estou assim! E' só melado. Bonito, hein? Estava difficil, n'um ôco muito alto e sem geito, mas sempre tirei. Não é jity não, é mel de pau.

Depôz a cuia de favos n'um mocho e se foi á janella lavar as mãos sob a caneca d'agua que a mulher despejava. E pondo os olhos no cavallo:

— Hoje veiu no picaço... Bom bicho! Eu sempre digo: animaes aqui no redor são este picaço e a ruana do Izé de Lima. O mais é cavallaria de moenda.

Neste momento entrou a menina, de pote á cabeça. Ao vel-a o pae apontou a cuia de mel.

— Está ahi, filha, o doce da aposta. Perdi, paguei. Negocio é negocio. Que aposta? Ah!