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mente no dia em que, n'uma batida feliz, apanhava-a desprevenida, fazer aquillo, o Porunguinha? Mas é uma criança. Sim, mos o pae não approvou? Não disse, entre risadas. o Nunes que se fomente? Haviam de pagar.

Veiu dahi a malquerença. O espigão vinha do periodo um pouco mais remoto em que a crosta da terra encoscorou.

Aggravava a dissenção uma rivalidade quasi de casta. Nunes pertencia á classe dos que decaem por força de muita cachaça na cabeça e muita saia em casa. "Filho homem" só tinha o José Benedicto, d'appellido Pernambi, um passarico desta alturinha, apezar de bem entrado nos sete annos. O resto era uma "recula" de "familias mulheres", Maria Benedicta, Maria da Conceição, Maria da Graça, Maria da Gloria, um rosario de oito Mariquinhas de saia comprida.

Tanta mulher em casa amargava o animo de Nunes, que nos dias de cachaça ameaçava afogal-as todas na lagoa, como a ninhada de gatos.

Consolava-se amimando Pernambi, que aquelle ao menos logo estaria no eito a ajudal-o no cabo da enxada, emquanto o mulherio inutil mamparrearia por ali a espiolhar-se ao sol.

Pegava então do menino e dava-lhe pinga. A principio com caretas, que muito divertiam o pae, o engrimanço pegou lesto no vicio. Bebia e fumava, muito sôrna, com ares palermas de quem não é deste mundo. Tambem usava faca de ponta á cinta.

— Homem que não bebe, não pita, não tem faca de ponta não é homem, dizia Nunes.

E o pequira, conscio de que era homem, já batia nas irmans, cuspilhava de esguicho,