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Teve egua, mas barganhou-a por um capadele e uma espingarda velha. Comido o porco, sobrou do negocio o caco da picapau, d'um cano só e manhosa de tardar fogo.

A sua casa, de esteios roliços e portas de embau'ba rachada, muito encardida de pienman, prenunciava tapera proxima.

Capado nenhum. Gallinhada escassa.

Ao cachorro Brinquinho não lhe valia ser mestre paqueiro de fama; andava de barriga ás costas, com bernes no toiliço. O pobresinho não caminhava dez passos sem que, mordido, parasse, pondo-se aos redopios sobre us quartos trazeiros tentando inutilmente aboccar o parasita inattingivel. Que preasse. Cachorro é bicho ladino e o matto anda cheio de preás atolambadas. Tudo mais no Varjão afinava pela mesma tecla.

Foi quando contaram ao Nunes que Pedro Porunga trazia negoció d'uma besta arreada.

Besta arreada, o Porunga! Doeu-lhe aquillo no fundo d'alma. Era atrepar demais.

— Que ? ! já roncam assim ? ! bravateou. Pois hei de mostrar á Porungada quem é João Nunes Eusebio dos Santos, da Ponte-Alta !

E entrou-se, desd'ahi, de grandes atarefamentos. A mulher pasmava da subitanea reviravolta, duvidando e esperando.

— Durará esse fogo? Quem sabe!

Planeava Nunes grandes coisas, roça de tres alqueires, concerto de casa, monjolo... Aqui a mulher arrepanhou muxoxos:

— Monjolo? Ché, qu'esperança!

O marido, mettido em brios, roncou:

— Bóto, mulher, bóto monjolo, bóto moenda, bóto até moinho! Hei de fazer a Porungada morder a munheca de inveja. Vae ver.

Com assombro geral não ficou em conversa fiada a promessa. Nunes remendou, mal e