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mal, a casa, derrubou um capoeirão descançado de oito annos, e num esforço de mouro metteu na terra nove quartas de milho.

Pedro soube logo da bravata.

— Eh! Aquillo é fogo de jacá velho. Calor de pinguço não dura.

O anno correu bem. Vieram chuvas a tempo, de modo que em Janeiro o milho desembrulhava pendão, muito medrado de espigas. Nunes não cabia em si. Percorria as roças, contente da vida, unhando os caules polpudos já em pleno arreganhamento da dentuça vermelha e palpando as bonecas tenrinhas a madeixarem-se duma cabellugem louro-translucida. Segurava então a barbica do mento e sonhava grandezas futuras, balanceando prós e contras. Os contras já estavam de fóra. Só havia prós. E concluia, entrando em casa, para a mulher:

— Este anno quebro um milhão deșgrammado!

Carecia, pois, de armar monjolo. Desdobrado em farinha o milho, vinham dobrados os lucros. Não foi o que empolou os Porungas, a farinha? Uma resolução de tal vulto, entretanto, não se toma assim do pé para a mão: era preciso meditar, calcular. E Nunes, 'maginava, 'maginava...

O "chóó-pan" do futuro engenho batia-lhe na cabeça como um ritornello de musica do céu.

— Hei de mostrar ao Porunga que não é elle o unico monjoleiro do mundo. Empreito o serviço com o compadre Teixeirinha, da Ponte Alta.

A mulher botou as mãos na cabeça.

— Nossa Virgem ! E' coisa de louco ! Pois o compadre nem braço tem...