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Dito e feito. Dois machados roncaram no pau alta noite, e inda não arraiava a manhan quando a peroba estrondeou no chão, tombada em terras do Nunes.

Os Porungas, advertidos pela ronqueira, mal lusco-fuscou o dia sahiram a sondar o que foi, o que não foi.

Dão logo com a marosca. Pedro, á frente do bando, interpella:

— Com ordem de quem, seu...

— Com ordem da paca, ouviu? — revida Nunes provocativo.

— Mas paca é paca e essa peroba é o marco do rumo, meia minha, meia sua.

— Pois eu quero gastar a minha parte, deixo a sua pr'ahi, retrucou Nunes apontando a cavaqueira cor de rosa.

Pedro continha-se a custo.

— Ah! cachorro, não sei onde estou que...

— Pois eu sei que estou em minha casa e que bato fogo na primeira "cuia" que passar o rumo.

Esquentou o bate-bocca. Houve nome feio a valer. O mulherio interveiu com grande descabellamento de palavrões.

Mas Nunes, radiante, de espingardinha na mão, berrava para o Maneta:

— Vá lavrando, compadre, que eu sosinho escóro este cuiame.

A Porungada, afinal abandonou o campo, para não haver sangue.

— Você fica com o pau, cachaceiro. mas deixe estar que inda ha de chorar alguma lagrima de sangue p'r'amor disso.

— Bééé, estrugiu Nunes triumphalmente.

Os Porungas desceram, resmoneando em conciliabulo. seguidos do olhar victorioso de Nunes.

— Então, compadre? Viu que cuiada chó-