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pegar um serviço especulava primeiro se por alli perto não tinha havido desgraça. Era para ver se o feitiço estava solto ou preso, e precatar-se.


Com estas e outras ia Maneta florejando de lerias as horas de trabalho, emquanto dava os derradeiros retoques na virgem.

Estava prompto o monjolo. Nunes, jubiloso, via o primeiro sonho das futuras grandezas quasi realizado. Faltava o assentamento, que é nada, e porisso, contente, batia palmadas amigas na peroba vermelha

— Ahi, minha velha, mansinha, hein? Ha de chamar-se Tira-prosa — tira-prosa de Porungas, Cabaças e Cuias, eh! eh!

Recolheram cedo nesse dia para solennisar o feito a custa d'um ancorote de cachaça, que esvasiaram a meio.

Dias depois, bem fincado, bem socado, o monjolo recebeu agua. Destapada a bica, um gorgolão d'enxurro espumejou no cocho, encheu-o, desbordou para o "inferno". A engenhoca gemeu na virgem e alçou o pescoço. O cocho despejou a aguaceira, “chóó!” a munheca bateu firme no pilão, "pan!"

Nunes pulava d'alegria:

— Conheceu, Porungada chóca, quem é João Nunes Eusebio, da Ponte-Alta?

Mas não lhe bastou aquelle barulho, nem a grita da meninada a palmear, nem os ladridos de Brinquinho que, espantado da maluqueira, latia no alto d'um comoro, a salvo de ponta-pés. Queria mais. Correu á espingarda, espoletou-a, e erguendo-a para o "outro lado" desfechou. Mas o caco velho da picapáu não compartilhava da alegria geral, rebentou a espoleta e calou-se. Nunes inda a manteve uns segundos alçada, esperando o