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arroba e meia! A virgem está errada, e fóra do prumo. Milho está, que está alvejando o chão. A mão pincha duna banda. Nossa Senhora! Que mundéo!

Os Porunguinhas babavam.

— Então roncar, ronca?

— Nossa! Ronca que nem uma “trumaeuta". Mas socar? o boi soca! Nem tres litros rende por noite. Homem, gentes, aquillo é coisa que só vendo!

A cara dos Porungas, annuveada desde o incidente da peroba. refloriu d'alli por diante nos saudaveis risos escarninhos do despique. E as nuvens que alli pairavam foram escurentar os céus do Varjão.

Começou a revide, um nunca se acabar de troças e pilherias. Inventavam novos traços comicos, exaggeravam as trapalhices do mundéo. Enfeitavam-n'o como se faz ao mastro de S. João. Sobre as linhas geraes debuxadas pelo velho atavam os Porunguinhas cada qual o seu buqué, de modo a tornar o pobre monjolo uma coisa prodigiosamente comica. A palavra Ronqueira entrou em giro na viziahança, como termo comparativo de tudo quanto é risivel ou não tem pé nem cabeça.

Aos ouvidos de Nunes foram bater taes rumores. O orgulho, muito medrado no periodo dos sonhos megalomanicos, murchára-lhe como fructa verde colhida antes do tempo. Impossibilitado de vingar-se, deu de criar um rancor surdo contra a Ronqueira, que, tropoga, lá ia malhando, dia e noile, "chóó-pan", muito lerda, muito parca de rendimento. E, para acalmar a bilis, dobrou as doses de cachaça.

A mulher amanhava a casa n'um grande desconsolo da vida, esmulambada, sem mais esperanças d'arranjo p'r'aquelle homem.