Pernambi, sempre rentando o pae, sornissimo, parecia um velhinho idiota. Não tirava da bocca o pito de barro e cada vez batia mais rijo no mulherio miudo.
Brinquinho desnorteára. Sentado nas patas trazeiras olhava, inclinando a cabecinha, ora para um, ora para outro, sem saber o que pensar da sua gente.
E assim, mezes.
Afinal veiu a desgraça. Feitiço de pau ou não, o caso foi que o innocente pagou o crime do peccador, como quer a justiça biblica.
Certo dia soube Nunes que o José Cuitelo, da Pedra Branca, seu compadre, puzera nome a uma egua lazarenta de Ronqueira.
Era demais!
— Até o cachorro do Cuitelo! gemen o misero passando a mão na garrafa.
Gargalaçou um gole, e:
— Pernambisinho, vem cá, bebe com teu pae, filho.
O menino não esperou novo convite: bebeu um, dois e tres goles, estalando a lingua.
O resto da garrafa soverteu-se no bucho do caboclo.
Pernambi, mal tonteado pelos effluvios do alcool, banzou um bocado por alli. Depois saiu.
Nunes estirou-se ao sol, a dormir.
Era um dia calmo d'Agosto. Ceu toldado de fumo. Sol vermelho, sem brilho, a modorrar em declinio. Folhinhas carbonisadas de samambaia desciam do alto, lentamente, a girar.
Transcorrida uma hora o bebedo acordou, e relanceando em redor os olhos mortiços:
— Qu'é delle Pernambi? — disse ás filhas acocoradas ao pé. As meninas não sabiam.
— Chamem Pernambi, — engrolou o bebedo recahindo em cochilo.