Página:Urupês (1919).pdf/63

Wikisource, a biblioteca livre
— 58 —

Pernambi, sempre rentando o pae, sornissimo, parecia um velhinho idiota. Não tirava da bocca o pito de barro e cada vez batia mais rijo no mulherio miudo.

Brinquinho desnorteára. Sentado nas patas trazeiras olhava, inclinando a cabecinha, ora para um, ora para outro, sem saber o que pensar da sua gente.

E assim, mezes.

Afinal veiu a desgraça. Feitiço de pau ou não, o caso foi que o innocente pagou o crime do peccador, como quer a justiça biblica.

Certo dia soube Nunes que o José Cuitelo, da Pedra Branca, seu compadre, puzera nome a uma egua lazarenta de Ronqueira.

Era demais!

— Até o cachorro do Cuitelo! gemen o misero passando a mão na garrafa.

Gargalaçou um gole, e:

— Pernambisinho, vem cá, bebe com teu pae, filho.

O menino não esperou novo convite: bebeu um, dois e tres goles, estalando a lingua.

O resto da garrafa soverteu-se no bucho do caboclo.

Pernambi, mal tonteado pelos effluvios do alcool, banzou um bocado por alli. Depois saiu.

Nunes estirou-se ao sol, a dormir.

Era um dia calmo d'Agosto. Ceu toldado de fumo. Sol vermelho, sem brilho, a modorrar em declinio. Folhinhas carbonisadas de samambaia desciam do alto, lentamente, a girar.

Transcorrida uma hora o bebedo acordou, e relanceando em redor os olhos mortiços:

— Qu'é delle Pernambi? — disse ás filhas acocoradas ao pé. As meninas não sabiam.

— Chamem Pernambi, — engrolou o bebedo recahindo em cochilo.