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diurna e nocturna manuseou-os,a estes tratadistas de anatomia, da physiologia, da calaçaría, e agora roiam-no saudades.


Yvonne voltára á patria, deixando cá meia duzia de amantes que depennára a morrerem de saudades dos seus encantos. Antes de ir-se deu a cada parvo uma estrellinha do céu, para, a tantas horas, encontrarem-se nella os amorosos olhares. Os seis idiotas todas as noites ferravam o olho, um no "Taureau", (ella distribuiu as constellações em francez) outro na "Ecrevisse", outro na "Chevelure de Berenice", o quarto no "Bélier", o quinto em "Antarés", e o derradeiro na "Epi de la Vierge". A garota morria de rir nos braços dum "apache", contando-lhe a historia comica dos seis parvos brasilicos e das seis estrellas respectivas. Liam juntos as seis cartas recebidas a cada vapor, nas quaes os protestos amorosos em temperatura de ebulição faziam perdoar a ingrammaticalidade do francez antarctico. E respondiam de collaboração em carta circular, onde só variavam o nome da estrella e o endereço. Promptas todas as copias, o “apache" abria o canhenho e dictava:

— Mr. Gomes, "le Taureau"; Mr. Silva, "l'Epi de la Vierge; Mr. Souza, "le Bélier".

E Yvonne ia collocando as estrellas, a rir.

Esta circular era o que havia de terno.

Queixava-se a rapariga de saudades, essa palavra tão poetica que fora aprender no Brasil, o bello paiz das palmeiras, do céu azul, e do amor... Acoimava-os de ingratos, convolados já para novos amores, ao passo que a pobresinha, solitaria e triste "comme la jurity", na casa humilde dos velhos paes consumia os dias a rememorar o doce passado e os serões em fitar a estrella...