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Eis explicada a razão pela qual, em noites limpidas, ficava Ignacinho á janella, pensativo, de olhos postos na "Chevelure".

E tambem se explica o segredo d'umas cartas que lhe entregava o correio. carimbadas de França sobre a figurinha da Semeadora.

O sonho do moço era enriquecer ás rapidas para realar a gostosura do idylio interrompido.

— Paris!... balbuciava a meia voz nos momentos de devaneio, semi-cerrando os olhos no antegozo do paraizo.

Sonhava-se lá, riquinho, com Yvonne pelo braço, flanando no "Bois", tal qual como nos romances; e a realização deste sonho era o alvo de todos os seus passos. Jurára á amiga ir ter com ella, logo que a prosperidade lhe abastasse meios.

Entretanto o tempo corria, sem que nenhuma piabanha de vulto lhe cahisse na rede. Tardava a bolada...

Em francez senegalesco Ignacio chorincou epistolarmente no collo da diva:

— Não adoece por cá nenhum rico ; não ha "margem para grandes lances" ; o pae está velho mas ainda rijo, além de que somos dezeseis herdeiros! Não sei quando poderei estreitar-te nos braços, ó minha...

Aqui vinham tres ou quatro comparações a fio, qual mais poetica, relembrativas do estro de Salomão quando cantava a Sulamita.


Entre os medicos antigos de Itaóca o Dr. Ignacinho gozava pessimo renome, se um renome pessimo é coisa de gozo.

— Uma bestinha, dizia um ; eu fico pasmado mas é de sairem da Faculdade cavalgaduras daquelle porte! E' medico no diploma, na