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seu marido completamente são dentro de um mez.

— Deus o ouça! — rematou a mulher, já reconciliada com a "antipathia", acompanhando-o até á porta.

— Então? — perguntou-lhe o doente; — fiz ou não fiz bem em chamal-o?

— Parece. Deus queira tenhamos acertado, porque isto de medicos é sorte.

— Não é tanto assim — reguingou o velho — os que sabem conhecem-se por meia duzia de palavras, e este moço, ou muito me engano, ou sabe o que diz. Fosse o Fortunato...

E riu-se, ao imaginar as doencinhas caseiras que o Fortunato descobriria nelle.


A doença do major Mendanha ninguem n'a soube qual fôra. O lindo diagnostico de Ignacinho não passava de mera sonoridade pelintra. Bacorejara ao moço que o velho tinha o coração fraco, e qualquer maromba pelo figado. Isto, porque lhe doia a elle aqui no "vasio"; aquillo, por ser natural em organismo já combalido pela idade. Méro palpite. Confessal-o com esta sem cerimonia, porém, seria fazer clinica á moda Fortunato, e desmoralizar-se. Além do mais, quem sabe não estaria ali o sonhado lance? Prolongar a doença... Engordar a maquia...

Ignacio não enxergava em Mendanha o doente, mas uma bolada maior ou menor, conforme a habilidade do seu jogo.

A saude do velho importava-lhe tanto como as estrellas do céu excepção feita á "Cabelleira de Berenice". Como desadorasse a medicina, não vendo nella mais que um meio rapido de enriquecer, nem sequer lhe interessava o "caso clinico" em si, como a muitos.